Como previsto, a Assembleia da República extinguiu, “agregando”,
as freguesias que um grupo de burocratas bem entendeu, no maior golpe contra o
poder local de que há memória em democracia. Contra a esmagadora vontade das
populações e autarcas, muitos até dos partidos “extintores”, a vontade popular
foi abafada, como aliás, o foi em todo o processo de integração europeia, na
entrada no euro, na assinatura do memorando de “entendimento”, na retirada de
direitos sociais, e outras coisas fundamentais. Caso para dizer: é isto uma
democracia?
A participação na vida pública e nas escolhas que a todos
dizem respeito não são exclusivo dos partidos, que raptaram a vontade do povo,
em nome dum sistema dito representativo que cria a ficção de delegar a vontade
popular nos partidos e estes nos seus directórios, afunilando um sistema de que
hoje todos reclamam, mas que de democrático tem já pouco.
Segue-se um ano de eleições em que muitos autarcas se verão
perante a contrariedade de concorrer (querendo) a juntas contra cuja existência
se opuseram, e a ter de as instalar posteriormente. É como se o condenado
tivesse agora a missão de gerir a prisão a que o acorrentaram.
Lamentável neste processo a atitude de autarcas que
demonstraram não o merecer ser, fazendo silenciosos jogos de influência quando
já conhecida era a sua intenção de fazer valer mais a vontade do poder central
que a daqueles que os elegeram. Lamentável a atitude dos presidentes de junta
que viram as assembleias de freguesia votar contra a agregação, mas nas
assembleias municipais, onde estão por inerência de cargo e não por si próprios, votaram
de acordo com os desígnios partidários ou se abstiveram de tomar posição,
sobretudo aqueles cujas freguesias vão agora desaparecer.
No que a Sintra respeita, uma palavra, pessoal, (como tudo o
que escrevo neste espaço), para o “sintrismo” de Fernando Cunha, presidente da
junta de freguesia de S.Pedro de Penaferrim, figura proeminente do comércio e
do mundo desportivo local, e que desde sempre pensou pela sua cabeça, não se
abstendo de tornar pública a sua posição contra a extinção da sua freguesia,
apesar de eleito pelo partido que tal propôs, à semelhança, aliás, de inúmeros
autarcas por esse país fora, com o presidente da ANAFRE, do PSD, à cabeça.
As freguesias têm um longo historial no municipalismo
português.Com a reforma administrativa de 18 de Julho de 1835, surgiu a
estrutura civil da Junta de Paróquia, autonomizada da estrutura eclesiástica,
com limites territoriais geralmente coincidentes com os das paróquias
eclesiásticas que vinham desde a Idade Média. Com a Lei n.º 621, de 23 de Junho
de 1916, as paróquias civis passam a designar-se freguesias, e a Junta de
Paróquia passou a designar-se Junta de Freguesia, fixando-se assim a diferença
entre a estrutura civil (freguesia) e a estrutura eclesiástica (paróquia). Se é
certo que nem sempre os seus representantes foram escolhidos de forma
democrática, de estranhar é, contudo, que assim ocorra 38 anos depois do 25 de
Abril. Só fica a faltar o regresso dos regedores...
Caro Fernando Gomes, com o devido respeito, permita-me uma pequena correção relativamente ao penúltimo parágrafo.
ResponderEliminarRelativamente ao Fernando Cunha, lamento que o mesmo não tenha exercido o seu voto na Casa da Democracia condizente com o que defendia publicamente.
Relativamente ao senhor presidente da ANAFRE, o mesmo, na minha humilde opinião deixa muito a desejar. Aliás, penso que o senhor só tomou uma posição de "força" após ter os movimentos cívicos na rua, não fosse o senhor ficar mal na fotografia.
Fernando Pereira
JF Sintra São Martinho
Caro Fernando Pereira, em relação a si nada há a apontar, pois sempre tem sido coerente com a posição de defesa de São Martinho.
ResponderEliminarQuanto ao Fernando Cunha, falo em função do que vi nele desde Março/Abril, de defesa de S.Pedro, em público e em privado.Mas é verdade que na Assembleia Municipal votou igualmente pela solicitação do parecer da UTRAT, que serviu apenas para postergar uma não posição de Sintra sobre este tema, como se antevia e veio a verificar. Os eleitores a seu tempo apreciarão todas estas atitudes. Abraço. Fernando