Conheci o
professor João de Oliveira Cachado a 17
de Novembro de 2006, quando a ainda jovem Alagamares entendeu empreender uma
campanha pelo restauro do então abandonado Chalé da Condessa d’Edla, no Parque
da Pena. Técnico de educação e pedagogo, ligado anteriormente também à Escola
Profissional de Recuperação do Património de Sintra, dele pudemos então escutar
valiosas informações sobre o trabalho de campo já executado por essa escola em
prol da reabilitação do local, e as suas ponderadas e fundamentadas palavras
denotadoras dum vasto conhecimento das patologias e carências na recuperação da
jóia da coroa, sangrando esfaqueada por supostos guardiães usurpadores e
acossada pela incúria, para muitos provavelmente “romântica” até.
Desde essa noite,
nasceu e consolidou-se um sentimento de respeito e consideração que nos
aproximou civica e intelectualmente, tendo desde então mantido contactos
regulares que se traduziram no acompanhamento das iniciativas tendentes ao
restauro do chalé (e de que destaco, entre várias, a jornada cívica de 4 de
Março de 2008, com a visita não autorizada de um punhado de sintrenses ao local
ainda em ruínas, à cabeça dos quais se destacou Maria Almira Medina, foto abaixo) e
posteriormente as denúncias em torno da usurpação dos jardins de Seteais durante
o período de obras que afrontou a carta de aforamento de 1801, entre outras
causas.
Presença
frequente na imprensa local e na blogosfera, dele se ouviram e ouvem avisadas
palavras e opiniões denunciando ou contestando a perpretação de atentados ou desatenções
do poder em temas como o tanque de Seteais e as construções ali erigidas em
zona sensível, a frustrada aquisição da Quinta do Relógio, o caravanismo
selvagem no Rio do Porto, a falta de legendas explicativas em muitos dos locais
simbólicos de Sintra ou a limpeza e falta de civismo que a consciência de todos
convoca, como cidadãos, munícipes e sintrenses.
Melómano
inveterado, entusiasta militante da Mozartwoche de Salzburgo, que nunca perde,
perdendo-se no perfume inebriante da sua música, pedonal caminheiro dos “seis
quilómetros à hora”, como a si próprio se define, Sintra habitou-se há muito à
sua voz independente, construtiva, e acima de tudo, cidadã, duma estirpe que
hoje vai rareando e nos relembra emocionados um José Alfredo ou um Francisco Costa,
guerreiros da pena e príncipes da palavra, D.Fernando ou o Carvalho da Pena, os
jardineiros de Deus.
No próximo dia 28
de Setembro, no momento em
que a brisa da tarde e um derradeiro ressoar de cascos de cavalo quebrar o
torpor e os silêncios da serra sagrada, regressando à vila, os homens, finitos
e tangíveis, tratarão de se reconciliar exorcizando o Silêncio e saudando o
Homem, momento em que a edilidade de Sintra irá homenageá-lo na
Quinta da Regaleira, num merecido acto simbólico, felizmente certeiro, no espaço e no tempo. Escreveu ele de si
próprio:
“Sem dar muito pelo tempo que passa, a verdade é que há
cinquenta anos que celebro a música constantemente, em directo, em Portugal e
por essa Europa fora, especialmente, em Salzburg onde, há muito tempo, fiquei
preso, perfeitamente cativo. De facto, tenho o incrível privilégio e o
invejável poder de marcar a agenda da minha vida a partir dos compromissos
musicais.
(…)No meu caso pessoal, não será preciso fazer um grande esforço para perceber como o melómano se confunde com o diletante, com o viajante, e, em certos casos, com o de peregrino, como acontece com Salzburg (tão especialmente, no Inverno, por altura da Mozartwoche) ou Bayreuth, sempre em busca do instantâneo momento em que Arte, Beleza e a centelha do Divino acontecem”.
(…)No meu caso pessoal, não será preciso fazer um grande esforço para perceber como o melómano se confunde com o diletante, com o viajante, e, em certos casos, com o de peregrino, como acontece com Salzburg (tão especialmente, no Inverno, por altura da Mozartwoche) ou Bayreuth, sempre em busca do instantâneo momento em que Arte, Beleza e a centelha do Divino acontecem”.
Como escreveu
Oscar Wilde, “Chamamos Ética ao conjunto de coisas que as pessoas
fazem quando todos estão a olhar. O conjunto de coisas que as pessoas fazem
quando ninguém olha ou repara, chamamos
Carácter”.
Parabéns e continue,
João Cachado! Sintra ainda tem Memória!
Sem comentários:
Enviar um comentário