Rui Zink continua irónico e subtil e isso ficou patente
na sua passagem pela tertúlia que a Alagamares promoveu no Café Saudade, em
Sintra, moderada por Miguel Real.
Discorrendo em torno do papel do escritor e dos ódios de
estimação que muitos cultivam entre si, durante 2 horas foi passando revista à
maneira de ser português, tendo afirmado mesmo que a relação de Vasco da Gama
com o Adamastor foi uma relação de extremo amor e classificando Vasco da Gama
como o pai da psicanálise em Portugal. Sobre Saramago, tempo para discorrer sobre
amores e ódios nutridos por Lobo Antunes, e do stresse que é ser um escritor
nobelizado, fiel à imagem do patrono de causas, venerado nos altares das
livrarias. Admirador do Sr.Oliveira da Figueira, o português caixeiro viajante
dos álbuns de Tintin, sempre em tom bem humorado, Zink confessou-se um escritor
de sucesso, traduzido em várias línguas e por isso já com estatuto para uma casa na Provença, benefício
de que muitos dos seus colegas indígenas ainda não desfrutarão, os trastes…,
trazendo boa disposição aos presentes. Sempre num registo de ironia, falou de
Dário Fo, de Don DeLillo, de Hertha Muller, e da temporalidade da literatura,
travestindo uma postura diletante e displicente e assumindo-se um pouco docente
também, num serpentear da palavra que me trouxe à memória Pedro Paixão, Woody
Allen, Diniz Machado ou esse seu counterpart Miguel Esteves Cardoso. Foi uma
noite sem (muita) má língua, mas onde também as questões da língua escrita se colocaram
de forma bem falada, e em dia de manifestação de protesto, um final de noite aproveitado
para ladrar a algumas caravanas que por aí passam…Mas com elegância, como é
próprio de quem passa férias na Provença…
Se a ironia é o pudor da Humanidade, como escreveu
Pessoa, ela é também o principal indício de que a consciência se tornou
consciente. No fundo, não se pode levar a vida muito a sério. É preciso não
esquecer que a vida, afinal, nasceu de um momento de gozo…
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