Passam hoje cem anos que nasceu o Capitão da Areia, Jorge
Amado, esse mago do Brasil dos jagunços, coronéis, quengas e personagens solitárias,
todas elas imbuídas de universos intensos e vividos, num Brasil-Mundo sofredor, mas colorido e
divertido, lutador e, sobretudo, baiano.
Recordo a leitura dos seus Subterrâneos da Liberdade, numa
época em que por cá também a liberdade era esconsa e sofrida, bem como a sua figura imponente e
branca de Pai Natal subindo da Avenida da Liberdade ao Parque Mayer, sempre com a inseparável Zélia, já depois de Abril e várias vezes depois, com os amigos portugueses que nunca esqueceu.
Recordo também a mítica colecção dos Livros do Brasil, na qual devorei as suas
obras, sobretudo as primeiras, o Jorge da
Gabriela, da Tieta, de Jubiabá ou do Quincas. Recordo-o também numa Feira do Livro
de Lisboa, já nos remotos anos 70, quando o cumprimentei e me autografou um exemplar da Tieta,
que mais tarde o país inteiro veria nos episódios da Globo. E diariamente o
apreciámos naquela mítica Gabriela a que deu alma, junto com seu Nacib, o dr.Mundinho, a Maria
Machadão e muitos outros personagens dessa Ilhéus capital do mundo.
Quando há uns anos fui a Salvador, de imediato corri para a praia de Itapuã, a ver a
casa onde viveu e onde descansa debaixo da copa duma árvore, e entre
candomblés, capoeira e o colorido do Pélôrinho português e tropical
pude visualizar esse microcosmos pujante de vida, cantado num português
açucarado, onde a cada esquina surgia uma Dona Flor, um Capitão da Areia,
cúmplices mães de santo e o sangue negro fundador do Brasil fazendo votos a Iemanjá.
Cada visita de Jorge Amado a Portugal era um regresso do avô velhinho, com a sua sabedoria feita palavra, trazendo o seu abraço forte e
fraterno. Nunca recebeu o Nobel, mas soube como ninguém perceber a natureza
humana, dos cafajestes, bacharéis, moleques da rua e perfeitos corruptos. Tempo pois
de rever Jorge Amado e o seu maravilhoso mundo, pois afinal, Gabriela
éis… meu camarada…
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