segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Estes malditos Jogos Olímpicos...


A prestação portuguesa nos Jogos Olímpicos tem sido a todos os títulos o reflexo de um país em crise, onde o dinheiro para formação e estágios foi cortado e não abunda, mas também marcada por um pathos de falta de ambição, de conformismo com as prestações, do apenas cumprir calendário. Não se duvida de que há trabalho, esforço e abnegação, e de que todo o elenco que se encontra em Londres se esforçou por um sonho, abdicando de vida familiar e lazer que são o outro lado da moeda das exigências da alta competição.
Contudo, ouvindo alguns deles- a começar pelo inenarrável Marco Fortes da “caminha” em Sidney, ou a velejadora que desertou inventando questões que não foi só agora que surgiram, por certo, questiona-se se para além de marcas desportivas, estes atletas estarão imbuídos do espírito da competição, enquanto forma de superação de si próprio e de desafio e perfeição que estão na génese do olimpismo. Porque se é só para marcar presença, bastava-nos ter enviado meia dúzia de atletas, não eram precisos 77, apenas satisfeitos com as vitórias morais.
O chefe da missão olímpica, num mau perder, diz que o país não tem cultura desportiva. Tem razão em parte. Mas se assim é, então o melhor seria nem ter ido.E não nascerão as expectativas do elevado grau de promoção que as televisões, na busca de audiências e em mês de silly season fazem de atletas que durante o ano são afogados no turbilhão do futebol e cujo nome muitas vezes se desconhece?
Há que tirar ilações, e sem querer verberar os atletas pela falta das medalhas, há contudo que rever a atitude. Deles, complacentes e resignados, e também dos portugueses, também eles muitas vezes silenciosos  também face ao cercear dos seus legítimos direitos, mas ligeiros a exigir dos outros sentados nas mesas dos cafés.
Passam hoje 67 anos dos hediondos bombardeamentos em Hiroshima. Lá, o povo não desistiu, nem se acomodou a vitórias morais, e o Japão ressurgiu das cinzas. Falta gente dessa tempera no Portugal de 2012. E o desporto é apenas um tubo de ensaio do imenso e egoísta estado letárgico e de falta de atitude e ambição em que vivemos.

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