Medo. Medo dos funcionários públicos em tomarem posição, com medo de represálias. Medo dos doentes em faltar para não perder dias de “baixa”, suportando a doença. Medo de fazer greve receando o despedimento, a mobilidade e o dia a menos no final do mês.
Medo do futuro e medo de pensar o futuro, zombies colectivos arrastamo-nos na incivilidade, famintos entre rostos fechados e desesperados e a esmola dum supermercado que aproveita as necessidades indisfarçadas.
Medo de ousar alternativas, medo de participar, medo de ser cidadão, anémico e desiludido com os amanhãs que já não serão como se pensavam ser, abandonados e sós no meio das multidões de máscaras a caminho do metro, do emprego e do Nada.
É o medo que nos inibe, incrédulos na Palavra e inertes na Acção, jurando vinganças no silêncio das ruas sujas e povoadas de pedintes, e, contudo, a nada reagindo, senão no balcão da cervejaria ou no final da partida de futebol, contra um inevitável árbitro sempre tendencioso e sempre ladrão.
O Medo voltou, como epidemia da Alma, e o Velho Leão luso lambe as feridas e silencia as dores no longo Inverno que atravessa. Já houve mouros e castelhanos, adamastores e terramotos, junots e bancarrotas. Desabituámo-nos. Até quando?
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