quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Cultura: Memória, Inclusão, Mudança

A Ernst & Young realizou um estudo sobre o impacto da pandemia nas indústrias culturais europeias e concluiu ter havido em 2020 uma quebra de 31% em relação a 2019. O ano passado refletiu-se negativamente em todos os setores, sendo que nas artes de palco e na música as perdas foram de 90% e 75% respetivamente, e que será preciso uma década para a recuperação.

As artes performativas e a música sofreram quebras entre os 20% e os 40%, as artes visuais 38%, a arquitetura 32%, o setor do livro 25%, o audiovisual 22%, além da publicidade (28%) imprensa (23%) e rádio (20%).

Segundo esse estudo, o setor cultural representava em 2019 4,4% do produto interno bruto da União Europeia, com receitas de 643 mil milhões de euros, e empregava 7, 6 milhões de pessoas.

Há, pois, que encarar este setor como estratégico na retoma da economia no curto e médio prazo, até porque é um segmento onde a transição verde e digital mais rapidamente se pode fazer, sem perder de vista que a Cultura perpetua a Memória, é fator de Inclusão e contribui para a Mudança. E é, sobretudo, Investimento, e não Despesa.


 

 

sábado, 23 de janeiro de 2021

Dia de Reflexão

Esta legislação de 1975 que consagra o dia de reflexão é obsoleta, mas ninguém se atreve a mexer-lhe. Então quem votou antecipadamente no domingo passado, bem como nos lares, nas prisões, no estrangeiro, fez um voto irrefletido? E se há penalizações para quem faça campanha no dia de hoje, quem pode impedir cada um de escrever o que bem entender nas redes sociais ou nos blogues, reforçando até o apelo ao voto em candidatos? O caso do candidato fantasma no boletim de voto é um hino à burocracia paralisante que rege a nossa legislação eleitoral, a par de outra, como a da eleição para as autarquias locais com distribuição de mandatos por método de Hondt (resquício do tempo em que se temiam maiorias de um só partido), as dificuldades em constituir uma lista independente ( sinal da forma como se partidocracizou o sistema) e muitas outras patologias que tornam o sistema mais semântico que ligado à realidade dos dias de hoje. E pronto, calo-me, antes que chegue o fiscal da Comissão Nacional de Eleições.



domingo, 3 de janeiro de 2021

Os putos e a Júlia Florista

A morte de Carlos do Carmo tirou dos arquivos da televisão alguns documentários que só por si são frescos duma Cultura Viva, de poetas e cantores do tempo em que a Cultura saiu à rua e a Utopia foi realidade, momentos de redenção por os termos vivido, mas também de nostalgia, comparados com a boçalidade que hoje qual vento lancinante atravessa o espaço mediático, onde mais que 3 minutos de vídeo já ninguém vê e o português límpido tem de ser lido com o Google ao lado. A gramática dos sentidos vai-se dissolvendo nas ilusões de óptica do Armagedeão tecnológico que nos trouxe a esta Finisterra sem horizonte. Depois do desabafo, volto para os meus baús, de sons eternos e palavras esquecidas. Navegar é preciso, e hoje e amanhã alguns nos reencontraremos com os putos, a Júlia Florista e a mulher das castanhas. Ary e Carlos sorriem, e sobre o castelo de novo poremos o cotovelo.