Foi publicado no Diário da República nº 19, II Série de 28 de janeiro,,
o despacho do Instituto de Conservação da Natureza que classificou os plátanos
de Colares como arvoredo de interesse público. Tal fim foi desde sempre um
objetivo da sociedade civil sintrense, com destaque neste
momento de júbilo para o papel desempenhado pela Alagamares e outras personalidades, com destaque para o
ativista e autor do blogue Rio das Maçãs, Pedro Macieira.
O referido despacho classifica como arvoredo de interesse público um
conjunto arbóreo e três exemplares isolados da espécie Platanus hybrida Brot.,
sitos na Várzea de Colares. Na sua justificação, o ICNF salienta que “nenhum
apresenta sinais de pouca resistência estrutural e mau estado vegetativo e
sanitário que não sejam tecnicamente resolúveis, nem se encontram sujeitos a
cumprimento de medidas fitossanitárias que recomendam a sua eliminação ou
destruição obrigatória”
Ficam assim protegidas as 30 árvores que fazem parte do conjunto arbóreo
constituem um alinhamento que se destaca pela simetria perfeita e pelo formato
dos fustes “em forma de taça” que dão origem a copas de grande altura, as quais,
depreende-se que terão sido plantadas na transição do século XIX para o século
xx, podendo estimar-se uma idade de 120 anos, sendo das mais antigas da
respetiva espécie existente em Portugal, parte da “memória e do imaginário
coletivo nacional” e reconhecendo-lhes “importância determinante na valorização
estética do espaço envolvente e dos seus elementos arquitetónicos”.
Também três exemplares isolados situados diante do Restaurante D’A Várzea
foram classificados.
A partir de agora, estas 33 árvores, 30 como alameda e 3 como exemplares
isolados, ficam dotadas de uma zona de proteção com um raio de 20 metros a
contar da base do tronco de cada uma das árvores, ficando proibidas quaisquer
intervenções que possam destruir ou danificar estes exemplares arbóreos, designadamente o corte do tronco, ramos ou raízes; a remoção de
terras ou outro tipo de escavações, na zona geral de proteção; o depósito de
materiais, seja qual for a sua natureza e a queima de detritos ou outros
produtos combustíveis, bem como a utilização de produtos fitotóxicos, na zona
geral de proteção, ou qualquer operação que possa causar dano, mutile,
deteriore ou prejudique o seu estado vegetativo.
Igualmente ficam dependentes de autorização do ICNF todas as operações de
beneficiação, nomeadamente desramações, podas de
formação ou sanitárias ou qualquer outro tipo de benfeitorias, bem como intervenções
nas suas zonas gerais de proteção.
Garantir um contínuo verde através das cidades deverá ser um mandamento do
planeamento, enfatizou um dia num colóquio da Alagamares o arquiteto Gonçalo
Ribeiro Teles, com isso se lutando "contra o caos e a distribuição especulativa do
território. ”
Muitos associam os plátanos à ocorrência de alergias, mas tal não passa de
um mito urbano. Os verdadeiros causadores são os choupos. Basta um pequeno
passeio num fim-de-semana ensolarado para averiguarmos que os
plátanos não têm em seu redor a substância, muito semelhante a algodão, de que
muitas pessoas se queixam.O que acontece é que de Março a Maio, e por
vezes ainda em princípio de Junho, em alguns anos, grande parte das árvores e
gramíneas têm altos índices de actividade polínica.
Citando a European Polen Information “Algumas pessoas
acreditam, de forma errónea, que os plátanos e os choupos originam os sintomas
da febre dos fenos. Mas isso sucede porque as sementes dos choupos e o primeiro
(e invisível) pólen das gramíneas a ser libertado em cada ano, costumam coincidir no
tempo…". Efetivamente, os grandes responsáveis por grande parte das
alergias são as gramíneas, e não os choupos, ou os plátanos.
As árvores são parte da História e o direito à paisagem, no respeito pelo
espirito do Lugar é e deve ser igualmente, um Direito e um Dever, como registo vivo para as gerações vindouras.
As podas ornamentais são necessárias, mas são igualmente um ponto sensível, e o dever de intervir para proteger não deve ser o momento para a afirmação
dos pequenos interesses que não passam da porta de cada um (a
"alergia" provocada, a raiz que estraga a casa, o roubo de lugares de
estacionamento), muitas vezes contando com a complacência das autoridades. Ao invés, mais árvores são necessárias, e uma
melhor organização e explicação da poda das existentes, quando necessária.
Continuar a realizar podas sem sentido (ou com ele, talvez...) é condenar
os exemplares existentes, que rapidamente se degradam e dificilmente perdurarão
dentro do espaço urbano.
Esta classificação, que a todos deve merecer regozijo, não é o fim dum processo, é uma etapa apenas, a que se
deve seguir a tomada de medidas para sua real proteção, e identificação das
mesmas no local, salvas que estão dum arborícidio precipitado e sem retorno. É uma notícia feliz para Sintra, e para todos os que por simples exercício de cidadania nesta e noutras lutas se empenham, pelaa
comunidade, e afinal, por todos nós. Se tudo
correr bem, algumas árvores em Colares poderão até morrer um dia, mas, ao menos, vão
morrer de pé.
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