Tirando o futebol e o Brexit, as televisões estão dominadas pelos reality shows judiciais, com heróis, vilões, advogados, juízes e jornalistas a intervir, não da casa mais vigiada de Portugal, mas dos tribunais mais devassados de Portugal. Quem matou Luís Grilo?Donde vem e a quem pertence o dinheiro de Sócrates? Quem acedeu aos mails do Benfica? Só Deus e a Tânia Laranjo é que sabem. A tabloidização dos noticiários de processos mediáticos só têm comparação com as inócuas e inúteis "conferências de imprensa" de antevisão dos jogos ou os programas de tagarelice desportiva de domingo e segunda feira.Pena que para ver algum programa interessante se tenha de navegar para outras plataformas e hoje sempre com a prévia necessidade de fazer o fact check do que se vê e ouve, não há informação sem confirmação, o pântano noticioso permite todos os populismos, a verdade e o boato, o rumor e a mentira dissimulada. Quase apetece relembrar os ingleses nos dias perturbadores da II Guerra Mundial."No news? That's good news!".
terça-feira, 29 de outubro de 2019
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
Desenterrar a Memória
Decorre hoje no Vale dos Caídos a exumação de Francisco Franco, o ditador que governou Espanha durante 36 anos, após uma guerra civil fratricida e sanguinária. O lugar dos tiranos é longe dos altares da glória, e nunca num local construído com o sangue dos que aprisionou e mandou matar. Peca só por tardia, pois, esta exumação, que ao mesmo tempo aviva demónios do passado, hoje de novo de rosto descoberto, como a emergência da extrema direita em Espanha o demonstra. O povo, porém, é sempre o supremo, o verdadeiro, e o único Herói
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
E um Museu da Caricatura em Sintra?
Foi no século XVII que o humor apareceu na imprensa, fazendo veicular a crítica satírica através de folhetos de cordel, papéis volantes, etc, sendo os desenhos que surgiram nesta época adaptações de trabalhos estrangeiros que procuravam criticar o sistema político nacional, uma vez que a arte da gravura erudita não tinha raízes na tradição artística portuguesa. O único exemplar de sátira erudita portuguesa da época foi criado por Viena Lusitano, e os focos de arte popular concentraram-se nos desenhos satíricos como expressão do sentimento de revolta contra o poder.
A partir do séc.XIX a produção jornalística e a sátira flutuaram ao sabor da liberdade de expressão e da intolerância do poder. Em meados de 1850 surgiram os primeiros jornais com ilustrações satíricas: «O Patriota», «O Torniquete», «Demócrito», «Duende», etc. As caricaturas de teor político surgiram como resposta à repressão, à ditadura, ao despotismo e na maior parte das vezes eram anónimas ou assinadas por pseudónimos.
Foi assim, no anonimato, que nasceu a caricatura nacional e os trabalhos daquele que é considerado por muitos o primeiro caricaturista português: Cecília.Com o desenrolar do século, os ânimos violentos do desenho acabaram por dar lugar a uma nova concepção filosófica de arte, mais preocupada com a evolução estética. Manuel Macedo e Nogueira da Silva foram os principais responsáveis por este virar de página na vida da caricatura em Portugal, e o seu grande expoente Rafael Bordalo Pinheiro.
Em Sintra ou de Sintra foram (e são) alguns deles, de relevo no panorama nacional, como Leal da Câmara, Stuart Carvalhais e Vasco de Castro, ou mais locais, como José Alfredo Costa Azevedo, Maria Almira Medina, Mestre Alonso, e contemporaneamente Luís Cardoso (Cardosálio) ou Rui Zilhão, reunindo uma obra que merece uma leitura de conjunto e homenagem pelo contributo com que através dela conta a história de um certo tempo, e como o mesmo foi ou é visto de forma acutilante e incisivo, fazendo mais com uma imagem que muitas vezes com mil palavras.
A existência de um espaço dedicado a esta valência artística, bem como à banda desenhada e ao cartoon poderia ser duplamente a forma de homenagear estes e outros artistas, bem como de a partir daí se criar um centro artístico dedicado às artes do Traço, com realização de workshops, exposições, conferências, etc, numa vertente integrada com a rede de museus e galerias municipais existente, para tanto importando factores como acessibilidade, localização, empenho da comunidade local e artística e ligação com os promotores turísticos e as escolas. Aqui fica uma ideia para lançar à comunidade sintrense e aos decisores, numa lógica de valorizar o que é nosso e homenagear aqueles que de uma forma ou outra são nossos também.
Abaixo, alguns trabalhos de autores sintrenses (cá nascidos ou que por cá andam ou andaram):
Leal da Câmara
José Alfredo Costa Azevedo
Stuart Carvalhais (auto caricatura)
Maria Almira Medina
Vasco
(caricatura de Mário Soares)
Luís Cardoso (Cardosálio)
Rui Zilhão
(caricatura de Salvador Dali)
terça-feira, 15 de outubro de 2019
Os 20 anos da Casa de Teatro de Sintra
Passam hoje 20 anos que foi inaugurada a Casa de Teatro de Sintra, pequena mas emblemática sede dum
projeto cultural que recua aos anos oitenta e à incontornável figura de João
Melo Alvim.
Passando pelo teatro CIDRA,
nascido na Escola Secundária de Santa Maria, em 1981, com “Amor de curtição”,
a direcção da Sociedade União Sintrense, onde igualmente apresentou
espectáculos (“Um Pedido de Casamento “ de Tchekov, ou “O
Último Acto” de Camilo Castelo Branco, em 1985) e a criação do Chão de
Oliva, em Julho de 1987, que incluiu o Teatro da Meia-Lua (representante de
Portugal num festival de teatro amador no Mónaco, em Julho de 1988) e a Escola
de Iniciação ao Teatro, João Melo Alvim foi pioneiro e farol dum projeto
cultural felizmente vivo e na estrada.
Quem viveu em Sintra nesses
anos iniciais, recordará o pouco teatro que então se fazia, e a pedrada no
charco que foram peças como “Comunidade” de Luís Pacheco no Casino, ou
as levadas à cena no antigo Carlos Manuel depois de Fevereiro de 1991 ( “Maçãs
do Mar” “Grande trabalho é viver” “O Falatório de Ruzante” “A Fé nos Amores” “A
Birra do Morto”,"O Mistério da Estrada de Sintra", "O Auto da
Índia", "Não se paga! Não se paga!" e muitas outras,
onde em várias pontificou a malograda Maria João Fontaínhas, ou actores como
Alfredo Brissos.
Dotada de uma casa em
permanência, inaugurada em 15 de Outubro de 1999, (foto acima) a Casa de Teatro
de Sintra sedimentou a marca Chão de Oliva , que se estendeu a outras
vertentes, como o teatro de marionetas ou os alojamentos de companhias
visitantes, sempre em ligação com outros actores e grupos de teatro que
entretanto foram surgindo, como o Utopia Teatro, os Tapafuros, a Casa das Cenas
ou o teatromosca, continuando João Alvim a ser presença de referência, fosse na
cena teatral, fosse colaborando com a imprensa local, nomeadamente no Jornal de
Sintra.
O antigo cinema Tivoli,
inaugurado em 18 de Fevereiro de 1928, hoje sede do Chão de Oliva, na R. Veiga
da Cunha, em Sintra, abriu como cinema num sábado de Carnaval, e foi, anos mais
tarde e durante muito tempo, utilizado como armazém e carpintaria. Da
utilização inicial restaram alguns pormenores, como o “lettering” na
fachada, mas o estado de degradação tornou premente uma intervenção com vista à
recuperação e reutilização para fins culturais. Como Casa de Teatro de Sintra,
desde 1999, este espaço veio preencher uma lacuna no que diz respeito à
inexistência de locais vocacionados para actividades culturais em Sintra.Carece
porém de obras, facto não quero deixar
de salientar, para hoje com continuação
assegurada no Nuno Pinto e companhia, possa a marca Chão de Oliva continuar a ser sinónimo de bom teatro
e a elevar e manter viva a actividade cultural de Sintra.
sábado, 12 de outubro de 2019
"Posto", logo Existo
Vivemos na era do Me, Myself and I, do hedonismo egoísta e do Eu como centro de todas as coisas. De tal modo que todos temos uma página na rede social onde sobretudo explanamos estados de alma, fotos de nós próprios, partilha de vulgaridades, em que a envolvente apenas serve para destacar mais o quanto nos valorizamos nos mais diversos contextos, desde o apregoar a solidariedade com pessoas e causas, que devia ser simples e desinteressada, até destilar ódios, rancores, frustrações e silêncios que se gritam, como simplesmente desejar feliz aniversário, chingar o clube de futebol adversário, exibir o cão, o filho pequeno, ou o prato do marisco que se foi degustar à beira mar. Até o sexo já é virtual, dispensando o parceiro, seus odores e humores no after hours. Tudo sempre acompanhado de desabafos no confessionário digital, à espera de caridosos likes, veniais lols ou dum qualquer emoji repetido pela enésima vez.
O Homem narcista é pressionado pelo individualismo competitivo, ansioso, entediado, cínico e volátil, produzido para consumo imediato. O “eu primeiro” e a falta de percepção do outro em todas as relações, afetivas, profissionais, sociais e até sexuais, chega a extremos em alguns casos.
Errantes, somos zombies carregando telemóveis e tablets como armas no período das guerras, desejamos ser compreendidos, mas dispômo-nos a compreender cada vez menos, queremos ser ouvidos, mas ouvimos cada vez menos. Temos o motorista que quer passar à frente de todos, mas não deixa ninguém passar à sua frente e quando, inadvertidamente alguém entra à sua frente, é capaz de descer do carro para tirar satisfações, ou coisa pior. A mãe que pára em segunda fila, atrapalhando o trânsito, porque o filho não pode dar dois passos até ao carro, quando vai buscá-lo à escola. E quando alguém reclama por conta da tal infração, o errado é o outro, nunca ele. O filho vê essa cena, e acredita que isso é que é correcto.
Alguns professores são veementemente desrespeitados no exercício de sua atividade porque alguns alunos acham-se no direito de fazer o que bem entendem, o que lhe dá prazer naquele momento, independente de um mínimo de respeito às regras de convivência, e isso pode ir desde fumar na sala de aula, atender o telemóvel ou falar em voz alta como se só estivesse ele na sala, desrespeitar os professores e usar palavrões, o que reforça a sua liderança da tribo.
Todos os dias vemos nas manchetes de jornais o quanto o respeito ao próximo é aviltado e o quanto é mais importante TER do que SER. Vivencia-se uma distorção dos vínculos afetivos, a falta de limites e de parâmetros. Ouve-se e vive-se a falta de perspectiva ou de sentido no trabalho, na educação, na saúde, na vida.
Parece-me que essa falta de perspectiva decorre da convicção de esse caminho ser visto como a única alternativa, há que aproveitar hoje, pois não se sabe nada sobre o amanhã, e então que se tenha prazer hoje e agora! Para quê estudar, se não vai haver trabalho no futuro? Para quê dar o melhor de si num trabalho, se se pode ser mandado embora a qualquer momento?
Falta comprometimento, e isso é fruto da falta de perspectiva. Como buscar objectivos de longo prazo numa sociedade com valores e expectativas de curto prazo? Como manter relações duráveis se o que se busca é o imediatismo?
Este Admirável mundo global da Comunicação é afinal um esquizofrénico mundo de solidões gritadas para amigos virtuais que mais não são que electrodomésticos, onde a emoção, a demonstração da amizade ou a opinião são estereotipados e a massificação das emoções fá-las venais e rituais.
Homem, inútil compreender esse animal aflito!
quinta-feira, 10 de outubro de 2019
A Guiné Equatorial e a Pena de Morte
Assinala-se hoje o Dia Internacional contra a Pena de Morte, e uma vez mais se trás à colação a questão da Guiné Equatorial, país onde a mesma ainda é uma realidade, apesar de suspensões sem garantias entretanto ocorridas, face ás denuncias da comunidade internacional.
Em 2010, este país descoberto pelos portugueses (antigas ilhas de Fernando Pó e Ano Bom) instituiu o português como 3ªlíngua oficial do país, apesar de a nossa língua aí não ser falada. Em grande medida devido à intervenção de Portugal e, não obstante o apoio do Brasil e de Angola, abriram-se portas a um país que arbitrariamente aplica essa pena, assim envergonhando a comunidade de países civilizados a que pertencemos e para cuja abolição contribuímos de forma dianteira em meados do século XIX.
Em 2010, este país descoberto pelos portugueses (antigas ilhas de Fernando Pó e Ano Bom) instituiu o português como 3ªlíngua oficial do país, apesar de a nossa língua aí não ser falada. Em grande medida devido à intervenção de Portugal e, não obstante o apoio do Brasil e de Angola, abriram-se portas a um país que arbitrariamente aplica essa pena, assim envergonhando a comunidade de países civilizados a que pertencemos e para cuja abolição contribuímos de forma dianteira em meados do século XIX.
Na Guiné Equatorial até hoje o que houve foram alterações legislativas semânticas, fingindo suspender a pena de morte, que estão longe de ter alterado o paradigma existente, continuando o país na lista negra da Human Rights Watch., não tendo esse país demonstrado avanços claros na democratização das instituições, na defesa dos direitos humanos e na partilha equitativa das riquezas naturais.
Recorde-se que Portugal se tem oposto a tais práticas típicas de épocas medievais, e que em Sintra o Grupo Local 19 da Amnistia Internacional se tem destacado em campanhas pela libertação de diversos presos políticos, antigos membros do Partido Progressista da Guiné Equatorial (proibido) que também estiveram no corredor da morte.
É este o país que, acenando às Mota-Engil, Teixeira Duarte e outras empresas mancha a CPLP, tendo sido admitido em nome da “diplomacia económica”. Depois da inépcia em lidar com a questão da Guiné Bissau, e do relativo desinteresse do Brasil e Angola pela organização, esta poderá mais não servir que para alimentar alguns burocratas africanos e portugueses, vestidos em lojas de marca no centro de Lisboa, e fazendo da lusofonia uma realidade política irrelevante e completamente dispensável, não só no quadro bilateral como no contexto da comunidade internacional. Defender a pena de morte nunca pode ser um modo de vida.
segunda-feira, 7 de outubro de 2019
Os 108 anos do Sport União Sintrense
São contraditórias e muito
discutidas as datas da fundação do Sport União Sintrense mas certo é que dia 7
de Outubro de 1911 conforme dizem os estatutos, é a data adotada para as comemorações do seu nascimento.
Quanto à ideia de se criar um
clube de Futebol em Sintra também não é consensual entre todos a iniciativa.
Vejamos. Nas primeiras décadas do Séc. XX como sabem Portugal era uns pais
empobrecido à beira da revolução, e é precisamente nessa época que o desporto
começa pouco a pouco a dar os seus primeiros passos. As primeiras bolas de futebol
ao que parece terão chegado a Portugal através de Guilherme Basto vindas de
Inglaterra e também por sua iniciativa, tiveram lugar em Cascais e Lisboa entre
1888 e 1889, os primeiros contactos com a modalidade. Depressa se espalhou por
entre todos esta nova modalidade que rapidamente ia conquistando praticantes de
todas as idades e classes sociais.
O primeiro Clube que se
conhece é o Lisbonense mas rapidamente foram constituídos outros clubes, como o
Real Ginásio Club e a Casa Pia de Lisboa, que deram um impulso gigante ao
futebol. Em Sintra, mais propriamente na Estefânia, o primeiro Clube a dar esses
passos foi o Grupo Sport União Sintrense, criado por seis jovens entusiastas da
modalidade que frequentavam a Escola Primária José Domingos
Morais, no Bairro da Estefânia. Foram eles Jorge Gomes, Alfredo Duarte, Salvador de Almeida,
Augusto Reis, João Veludo e Fernando Mata. Entre todos concordaram por
unanimidade que fosse Augusto Reis o primeiro presidente do Sintrense.
O Sport União Sintrense na sua
história oficial conta-nos que “Os
primeiros contactos com o futebol em Sintra provavelmente dão-se através de um
grupo de operários Lisboetas que vieram para Sintra para se ocuparem das obras
de restauro do Palácio Real desta Vila em 1908. Nas suas horas de lazer, alguns
destes operários entretinham-se a jogar à bola no terreiro fronteiro ao
Palácio, o que concitou desde logo a admiração e o entusiasmo de alguns jovens
Sintrenses que se trataram de os imitar, o que os levou a persistirem e
começarem por sua vez a aprender os primeiros passos sobre este aliciante jogo.
Os primeiros jogos começaram no Bairro da Estefânia, nos terrenos onde existia
uma velha Praça de Touros, e que hoje são ocupados pelo Mercado Municipal. Os
tais rapazes que frequentavam a Escola Primária volveram todas as suas atenções
para os mais velhos que se exibiam diariamente com uma bola muito artesanal,
mas que era para eles um autêntico fascínio. Mais firmes nas suas convicções e
dispondo de mais tempo e maior espírito organizador, fundam o clube a que deram
o nome de Sport União Sintrense, conseguindo apesar de a sua juventude ganhar
com os anos, um grande espírito de grupo, que constituiu o primeiro triunfo
para a consolidação da sua iniciativa”.
Durante esse tempo, a prática
desportiva era suportada pelos próprios atletas, as chuteiras eram um luxo que
nem todos podiam suportar, e muitas vezes jogava-se com botas de uso quotidiano.
Para contornar esta situação, recorria-se a subscrições, sendo essa a única
alternativa para a compra de material necessário.
À medida que que a estrutura
do Clube se consolidava em Sintra iam aparecendo outros clubes na Estefânia na
primeira década do Séc. XX nomeadamente os extintos- Morais Foot-Ball Club,
Académico Foot-Ball Club e o New Cruzaders, Infantis Sintrenses que acabariam
por se fundir ao Sport União Sintrense. Nos Anos 20, o Sintrense obtém o seu
primeiro título ao disputar o Torneio de Futebol de Sintra ,ficando conhecido
como o campeão de Sintra, logo se estabelecendo uma forte rivalidade bairrista
entre a Estefânia, São Pedro e a Vila. Foram renhidos e entusiásticos os embates
que se travaram no largo fronteiro do Palácio dos Seteais, que o Conde de
Sucena, proprietário do dito Palácio, disponibilizou para que os clubes da vila
de Sintra ali jogassem. É o chamado período do futebol "de balizas às
costas", dado que os jogadores percorriam as ruas de Sintra, equipados e
levavam consigo as balizas, arrastando consigo os adeptos que se divertiam e provocavam, por vezes com apupos e não poucas vezes em cenas de pancadaria na defesa das cores das suas
equipas.
Em 1930 o Sport União
Sintrense não tinha estatutos nem filiação associativa e não tinha
consentimento legal para a prática desportiva. Pelas mãos de Veloso Lima,
Humberto Costa, Manuel Macedo e Elísio Duarte sofreu uma remodelação total a
nível organizativo, criando-se os primeiros estatutos e os corpos gerentes e obtendo autorização do Governo Civil de Lisboa. Nesse ano, o clube filia-se na
Associação de Futebol de Lisboa com o nº 269. Foi nesta data que se modificaram
as cores do equipamento, que era camisola vermelha e calção branco, para camisola
vermelha com calção azul. Modificou-se também o emblema do Clube, adquiriu-se a
primeira bandeira e elevou-se o grupo à categoria de Clube. Foi nesta altura, na
tarde gloriosa de 5 de Outubro de 1930 que jogou com a 1ª categoria do
Sport Lisboa e Benfica ,encontro que marcou a a inauguração do campo da
Portela de Sintra.
Entretanto, o Sport União
Sintrense ganhou maior estrutura e solidez como clube, modificando o seu parque
de jogos e criando várias secções de diferentes modalidades. O ténis de mesa, o
basquetebol, o voleibol, a ginástica, o judo, o xadrez e a
pesca desportiva, são marcas de um ecletismo que se mantém. A pesca desportiva
como secção no clube, conheceu momentos de grande relevo. Com efeito, o
Sintrense foi o primeiro clube do país a ter uma representação de pesca
desportiva. Deu brado a sua representação que desfilou, em 1944, única, na
inauguração do Estádio Nacional, pela novidade e pelo impacto que causou, bem
com os primeiros concursos de pesca desportiva levados a efeito no rio de
Colares, a nível nacional.
Em 19 de Abril de 1944 foram
aprovados novos estatutos para adaptar o clube as realidades
jurídico-desportivas da época. A direcção era composta por sete membros
efectivos: presidente, vice-presidente, secretário-geral, secretária adjunto,
tesoureiro e dois vogais eleitos anualmente pela assembleia geral, e em 1946 foi criada a Comissão
de Propaganda do Sport União Sintrense com vista a divulgação pública da
entidade bem como angariação de fundos. Uma das primeiras iniciativas foi o
primeiro Torneio Popular de Futebol no concelho de Sintra, que na final, teve a audiência de três mil pessoas de todos os pontos do concelho.
O futebol ganhou no clube
grande notoriedade com a subida à almejada II Divisão Nacional, em 1964, conquistando no ano da sua estreia um honroso quinto lugar. (foto)
Com o aumento do profissionalismo no futebol e as suas consequentes exigências, o Sintrense não pôde acompanhar todo este movimento, quedando-se num patamar mais modesto, entre a II Divisão B e a III Divisão.
Com o aumento do profissionalismo no futebol e as suas consequentes exigências, o Sintrense não pôde acompanhar todo este movimento, quedando-se num patamar mais modesto, entre a II Divisão B e a III Divisão.
A 30 de Março de 1985 foi-lhe conferido o estatuto de
utilidade pública.
De salientar uma faceta importante no seu historial que tem a ver com a instalação durante muitos anos de uma Escola Primária que funcionou na velha sede do clube durante muitos anos.
Destaque entre os dirigentes históricos para Domingos Veloso Lima (a ele
ficou a dever-se a legal constituição do clube, a aquisição da sede na rua
Gomes Amorim e o campo da Portela em 1930) Manuel Soares Barreto, Barros Queirós (vitima do
estado novo em 1942, o seu nome foi censurado para os órgãos sociais do clube). Mário Travassos Valdez, António Forjaz (em cujo mandato
o clube sobe à segunda divisão nacional), António Manata, José Nunes, Fernando Ventura ou Adriano Filipe
terça-feira, 1 de outubro de 2019
China, dentro da Muralha
Escreveu um dia Alain Peyrefitte que quando a China despertar, o mundo tremerá. Setenta anos depois da proclamação por Mao Tsé-Tung da Republica Popular da China, que hoje se assinalam, o gigante adormecido está cada vez mais acordado e presente no mundo globalizado, com expressão mais recente no novo projeto da Rota da Seda com que deseja afirmar uma dominação imperial, embora só fora de portas.
Até aqui
chegarmos, a uma China de capitalismo de Estado e afirmação tecnológica, houve
a anexação do Tibete, a luta contra o Kuomintang, 45 milhões de mortes entre
1958 e 1961, principalmente por causa da fome, e entre 1 e 2 milhões de
proprietários de terra executados sob a acusação de serem "contrarrevolucionários".
Nos anos sessenta, a Revolução Cultural, uma das maiores tragédias do século XX, afirmou um modelo comunista diverso do
soviético, que só se esbateria com a morte de Mao, em 1976, e a prisão do Bando
dos Quatro, feitos bodes expiatórios dos excessos desses anos de fanatismo.
Deng Xiaoping rapidamente arrebatou o poder ao sucessor de Mao, Hua Guofeng, e
embora nunca tenha sido chefe do partido ou do Estado, foi o "líder
supremo" de fato da China na época e a sua influência dentro do Partido
levou o país a importantes reformas económicas e à criação de pontes com o Ocidente, materializadas com a politica de "um país , dois sistemas", adotado a quando do regresso de Hong Kong e Macau à China. Posteriormente, o Partido
Comunista afrouxou o controle governamental sobre a vida dos cidadãos e as
comunas populares foram dissolvidas, sendo que muitos camponeses receberam arrendamentos de terras, aumentando os incentivos para a produção
agrícola. Estes eventos marcaram a transição da China de uma economia planificada para uma economia mista com um ambiente de mercado cada vez mais aberto, um
sistema chamado por alguns de socialismo de mercado e que o Partido Comunista
da China oficialmente descreveu como "socialismo com características chinesas", e que tem vindo a permitir que o Império do Meio seja hoje já dominante a nível mundial. Mas se a economia passou de
socialista a capitalista de Estado quase sem se dar por isso, a democracia não
acompanhou o fenómeno, com os eventos da Praça Tiananmen em 1989, a perseguição
aos dissidentes e a falta dum sistema democrático e plural o demonstraram.
Quando
passam setenta anos da gloriosa jornada rumo a um socialismo que nunca existiu,
falta à China a abertura à democracia, o respeito pelos direitos humanos e
sociais, baseados em trabalho escravo, o respeito pelo ambiente, marcado pela delapidação dos recursos naturais e a afirmação da força da repressão contra a força da razão, ante um mundo salivante e temeroso de afrontar esse mercado e fonte de financiamento muitas vezes obscuro e sem regras. Abertura económica e
política, é algo que tarda em despertar para lá das pedras da Grande Muralha.