Amarante,
Barcelos e Braga foram designadas como Cidades Criativas pela UNESCO. Braga na
categoria de Artes Mediáticas, Barcelos na categoria de Artesanato e Arte
Popular, e Amarante na categoria de Música. A Rede de Cidades Criativas da
UNESCO foi criada em 2004 para fortalecer a cooperação entre cidades que
consideram a criatividade um fator estratégico de desenvolvimento urbano
sustentável com impacto social, cultural e económico. Em Portugal havia até
aqui dois concelhos com a classificação: Óbidos, no domínio da literatura, e
Idanha-a-Nova, na música. E Sintra, porque não?
Sintra
conta com um vasto capital de heranças, recordações e aspirações de um lugar e
capital intelectual, com as ideias e potencial inovador, a diversidade pode
funcionar como factor positivo e concorrencial.
A
economia criativa é hoje em dia reconhecida como um dos sectores em crescimento
na actual economia global, por exemplo, no Reino Unido, as indústrias criativas
criam 1.9 milhões de postos de trabalho em 121,000 empreendimentos e geram 8%
do valor nacional bruto. Cinema, rádio, media digitais, música, artes visuais,
teatro, arquitectura, moda, design, etc., são áreas afins à indústria criativa.
As indústrias criativas também são notáveis pela permeabilidade entre o
económico e o social, podendo alcançar objectivos sociais e culturais, lado a
lado com as produções económicas.
Sintra
tem grandes potencialidades como espaço de literacia cultural, pois cidade é
comunicação na sua capacidade para reconhecer, descodificar e encontrar o
significado e a essência de uma cidade. Todo o conhecimento é cultural. Valorizar
a importância do subjectivo e sensorial sobre a cidade como também o
conhecimento verificável e objectivo. Promover a Literacia cultural é usar o
conhecimento cultural que implica um enfoque interdisciplinar trazendo
múltiplas visões e uma diversidade de saberes.
Sintra
pode ensinar, e nela se pode e deve aprender, e dela fazer um centro de
aprendizagem criativa. Uma cidade de aprendizagem é uma cidade inteligente que
reflecte sobre si mesma, apreende do fracasso e demonstra visão estratégica,
repelindo aquilo a que José Gil chamou a «desactivação da acção».
As
Câmaras Municipais não devem ser
programadoras de eventos culturais ad-hoc, antes devem assumir um papel
de catalisadoras e facilitadoras dos processos criativos dos diversos agentes
culturais, e a estes deve estar cometido o papel propulsor e não reativo da construção de Cidade.
A
revitalização cultural de Sintra passa pela criação de sinergias e parcerias
entre os agentes culturais dispersos apostando num critério de cidade criativa,
aprofundando a conjugação de 3 linhas de força, a que Richard Florida no seu
livro The Rise of the Creative Class chamou os 3 T:Talento,Tolerância e
Tecnologia. Mas para quem começa por baixo, os passos a dar passam não pela
proliferação de eventos culturais contratados fora, mas antes de mais, a fim de
criar um espírito grupal, pela disponibilização gratuita de espaços que possam
ser centros de criatividade, encontro e troca de informações, algo como os
ingleses fizeram com os Fab Labs, pequenas fábricas, ateliers, estúdios onde se
possam instalar associações e pequenas empresas, fomentando uma economia
criativa, com equipamento digital base, maquinas de impressão, equipamento
gráfico, nas mais diversas áreas e onde possa haver troca de informação. Este
conceito catapultou já cidades antes adormecidas para novos paradigmas, como
Sheffield, em Inglaterra, ou Helsínquia, com o seu Design Distrit. Em
Amesterdão, o envolvimento de 9% da população em actividades e indústrias
criativas ajudou ao crescimento do emprego. Na Suécia, a instalação de uma
escola de artes circenses em Botkyrka, a 20 km de Estocolmo originou um centro
de criatividade chamado Subtopia.
Chamar
quem trabalha na ciência, arquitectura, design, moda, música, tecnologias e
potenciar sinergias é o desafio que um espaço privilegiado como Sintra poderia
agarrar. Pegue-se no Sintra-Cinema, na Portela, por exemplo, ou em instalações
industriais encerradas, e com um mínimo de condições de funcionamento, nada de
faraónico ou de fachada, promova-se a junção dos criadores e criativos. Afinal
a Cultura também contribui para o PNB e com relevo, como o estudo de Augusto
Mateus elencou. Sintra Criativa, pegando nos modelos que já estão inventados,
essa sim, pode ser uma Marca, criando uma verdadeira Economia da Cultura num
território onde existem condições naturais, população jovem e criativa e
factores de localização que podem gerar efeitos multiplicadores.
Cabe
ao sector financeiro igualmente apoiar nesse âmbito empresas startups de índole
cultural, em que as firmas gestoras de fundos de venture capital podem ajudar
com conhecimentos de gestão, acesso a redes de negócios e ajuda à obtenção de
competências no posicionamento estratégico para a venda de produtores criativos
inovadores e atracção de colaboradores. Recorde-se que o Sillicon Valey é o
centro mundial de referência neste modelo. Efectivamente a par do apoio das
instituições aos criadores e criativos, essencial se torna o apoio à formação
de clusters tecnológicos, muitas vezes junto das universidades e centros
tecnológicos com altos níveis de formação. Tais clusters e tais apoios são
essenciais para estancar a fuga de cérebros, e que só apoios e um ambiente de
empreendedorismo podem reverter.
É
essencial que os criadores e criativos, depois das universidades ou de
experiências desapoiadas entrem na esfera dos negócios, assim também atraindo a
comunidade não só para a sua produção cultural como para novos nichos de
oportunidade, criando empresas startup, apoiadas por parceiros estratégicos,
como fundos de investimento, universidades ou as autarquias. Pode Sintra também
aqui vir a mexer. Uma só palavra de ordem: mexamo-nos!