Muitos
foram os estrangeiros que escolheram Sintra para residência, ou para
visitas prolongadas. Se no século XIX temos o exemplo de Beckford, Byron
ou Francis Cook, no século XX muitos foram os atraídos pela serra
lunar. Alguns exemplos:
TENNESSEE CLAFLIN
Tennessee
Celeste Claflin, Lady Cook, segunda esposa de Francis Cook e
Viscondessa de Monserrate, nascida em 1843, foi uma sufragista americana
e uma das primeiras mulheres a abrir uma firma de correctores em Wall
Street. Empenhada no movimento sufragista, foi igualmente um dos rostos
pela legalização da prostituição nos Estados Unidos.
O
casamento com Francis Cook foi infeliz, embora nas deslocações a
Portugal predominasse do casal uma visão aristocrática e filantrópica
por parte dos locais. Cook morreu em 1901 e Tennie a 18 de Janeiro de
1923, com 77 anos, em casa da neta, Lady Utica Celeste Beecham, em
Inglaterra, sem testamento.
CHRISTOPHER ISHERWOOD
No
Natal de 1935 Christopher Isherwood e Stephen Spender, escritores da
chamada Geração Auden, que incluiu W. H. Auden, Louis MacNeice, Cecil
Day-Lewis e Stephen Spender viveram por algum tempo em Sintra, daí
resultando um livro publicado apenas em 2012, em italiano. Isherwood,
nascido em Inglaterra, foi o autor do famoso Adeus a Berlim, que serviu
de base ao filme Cabaret, de Bob Fosse, bem como de Um Homem Singular e
Encontro à Beira Rio. Em Sintra viveu na Vila Alecrim do Norte, em S.
Pedro.
ADRIAN CONAN DOYLE
Também
a família de Sir Arthur Conan Doyle, o “pai” de Sherlock Holmes, viveu
em Sintra, nomeadamente a irmã, Annette, em Portugal desde 1890, onde
foi governanta, e o filho mais novo, Adrian (na foto com o pai) que por
cá esteve na década de 50. Playboy e caçador reputado, continuou alguns
livros de Sherlock Holmes depois da morte do pai, passando algumas
temporadas na Quinta da Bela Vista
ALEISTER CROWLEY
Em
Setembro de 1930, Aleister Crowley, conhecido satanista inglês, vem a
Portugal conhecer Fernando Pessoa, que lhe fizera uma carta astrológica,
e aí terá ficado instalado no Casal de Santa Margarida, propriedade do
representante da Shell em Portugal. Alegadamente terá vindo jogar
xadrez.
Escreve Crowley no seu diário em 25 de setembro de 1930: Sat[urday] 20. She
left by Lloyd Bremen And I get on with the Job. To Cintra Hotel Europe
by 1.48.“Armstrong” Amer[ican] Consul: she said the most wooden headed
idiot, even for a consul (USA) she had ever known. I agree, and add “the
kind of bastard that cheats at cards even when he has a winning hand,
and no stake in the game”. Cintra perfectly gorgeous. Long starlight
walk.Two games with Pellen. Lost first through trying to win a drawn
position.
STEFAN ZWEIG
De
visita a Portugal em Fevereiro de 1938, Zweig, que depois se suicidou
no Brasil, esteve com Ferreira de Castro em Sintra. A sua vinda terá
estado relacionada com recolha de dados para o seu livro sobre Fernão de
Magalhães.
CONDES DE PARIS
A
Quinta do Anjinho, na Abrunheira, foi descoberta pelo embaixador de
Espanha em Lisboa, Nicolau Franco. Tinha-a, aliás, proposto ao
conde de Barcelona, pai do actual rei de Espanha, que rejeitou
a ideia por ser muito grande e, sobretudo, estar longe do seu
querido golf do Estoril.
Os
Condes de Paris instalam-se definitivamente na Quinta do Anjinho,
em Março de 1947, e é a partir desta data que a história da
Quinta se mistura com a história da família, príncipes, reis sem coroa e
membros das grandes monarquias europeias que encontram em
Portugal um refúgio real. Em 20 de Janeiro de 1948 nasceu Thibault, o
mais novo dos príncipes de França. Pouco depois recebem a visita do Rei
Leopoldo da Bélgica. No baptismo, foi seu padrinho o rei Humberto de
Itália e madrinha a rainha D. Amélia, então exilada em França.
Convidados foram todos os príncipes que viviam em Portugal.
Nas
festas que os Condes de Paris davam em casa, o fado tinha quase sempre
lugar cativo: Amália Rodrigues era presença regular tal como a
condessa de Sabrosa, D. Maria Teresa de Noronha. Sobre o tempo
que aqui viveu, num eixo que ligava Sintra Lisboa, Cascais e
Estoril, a Condessa de Paris deixou nas suas memórias sobre a vida em
Portugal: «entre todas as famílias reais, o exílio teceu laços
fortíssimos e quando nos encontrarmos, agora que nos dispersámos todos,
não conseguimos nunca deixar de evocar esta época da nossa vida
com saudade».
ROY CAMPBELL
O
poeta sul africano Roy Campbell viveu em Galamares em 1952 e no Linhó
em 1956 e deixar-nos ia um relato confessadamente pessoal e afectivo,
intitulado simplesmente
“Portugal”,
do seu envolvimento com o nosso país, as suas gentes, paisagens,
actividades, costumes e tradições. Como escreve na Introdução, I
have not tried to write a travel book, or a guide book, or a text book
about Portugal. This is a personal book, about a country which I love
and admire and about a people among whom I can number countless friends
in all walks of life. […]
Terá morado na Quinta dos Bochechos, manifestamente próximo da Ribeira das Maçãs, ([…]. On
my Quinta dos Bochechos, near Sintra, where we had an inexhaustible
water supply and could irrigate the whole farm in fifteen minutes, my
wife and I had the delight of growing our own bread on ten acres of
virgin soil which we cleared of scrub, so that the finest corn in the
whole district, according to the Government threshers at Varzea [sic],
was grown by us.” (Campbell, 1956), e em Galamares, numa casa cor de rosa, segundo Joaquim Paço d’Arcos (perto do actual picadeiro)
Escreveu ele “It
is one of the few faults of […] the Portuguese, that they drink more
per head than any other people in the world, including Scots, Irish or
American, but they’ve got it growing on their doorstep, and they can
stand up to it better than most of us can. But on Sundays you can see
some of them shepherding invisible sheep along the main roads, from side
to side: so, on Sundays, you motorists should drive carefully in
Portugal.”
Por
infeliz coincidência, Campbell seria precisamente vítima de um acidente
rodoviário mortal, no domingo de Páscoa de 1957,perto de Setúbal, sendo
o carro conduzido pela esposa.
Em
Portugal escreveu uma nova versão da sua autobiografia Light on a Dark
Horse e ainda Lorca (1952) , traduziu o Primo Basílio para inglês, e
escreveu ainda The Mamba’s Precipice (1953) Nativity (1954) e Portugal
(1957)
GLORIA SWANSON
Esta
actriz americana chegou a ter casa no Rodízio, e frequentava a Praia
das Maçãs com frequência. Estreou como figurante, no filme The Song of
Soul, em 1914 e actuou em diversas comédias de Mack Sennette. Em 1922
entrou no filme mudo Beyond the Rocks com Rodolfo Valentino.
Em
1950, actuou em Crepúsculo dos Deuses dirigida por Billy Wilder onde
interpretou “Norma Desmond”, uma actriz do cinema mudo incapaz de
aceitar o esquecimento. Gloria Swanson interpretou-se a si mesma no seu
último filme Aeroporto 75, de 1975. Segundo a revista de sábado do DN de
16 de Julho de 2011, “Diz-se que a primeira vinda a Portugal se
deveu ao desgosto de ter perdido o Óscar para Judy Holliday. Gloria não
perdoou a Hollywood a ingratidão, e desde então as suas aparições
rarearam limitando-se a alguns peplum italianos e espectáculos na
Broadway. (…)Hoje, ninguém sabe que a Praia das Maçãs era frequentada
por uma das derradeiras divas. Gloria caminhava discreta pelas arribas
para cá e para lá, ladeada pelo sobrinho, oculta por lenços violeta e
óculos negros de grandes aros. Dispensava o social e as abordagens de
algum fã mais atento. Não dispensava o blush. À tarde, preferia os
toldos e as esplanadas às festas dos nobres da vila. Gostava de amêijoas
e de tremoços. Apreciava a humidade e a bruma, o eléctrico, os
pescadores empoleirados nas rochas e os berros das gaivotas. Lia Eça,
Byron e Rimbaud. Escrevia poemas a lápis de cor que rasgava logo a
seguir ou pegava-lhes fogo.Consta que terá passado uma noite inteira de
insónia na varanda a contemplar o oceano e a beber moscatel. Gloria
chegou a Nova Iorque doente e as praias de Sintra foram as suas últimas
férias.(…)”
PIERRE SCHLUMBERGER
Pierre
Schlumberger foi presidente da Well Surveying Corporation, com
actividade em Houston e sede em Curaçao, desde 1956. Seu pai, Marcel e
seu tio Conrad haviam iniciado os proveitosos negócios da Schlumberger
em 1927.Petróleo, equipamentos eléctricos, mais de 343 milhões de
dollares em vendas só em 1966, era apenas parte do império construído em
quarenta anos.
Magnata
francês do petróleo e herdeiro de uma das maiores fortunas do mundo,
conheceu a mulher, a portuguesa São num jantar nos Estados Unidos, em
1961. Foi amor à primeira vista, e ambos casaram em Houston. A cerimónia
foi simples e discreta, ao estilo dos Schlumberger – uma família
protestante que cultivava a frugalidade apesar se ser das mais ricas de
França -, nada condizente com as estridentes e propaladas festas que São
haveria de dar mais tarde ao longo da sua vida. Como o grande baile “La
Dolce Vita”, em 1968, que São organizou na Quinta do Vinagre, em
Colares, a casa onde passavam férias de verão, na mesma semana em que os
Patiño deram a sua grande festa. Segundo se conta, São não queria ficar
atrás da sua rival Beatriz Patiño, que desdenhava dela. Por isso
organizou uma festa na ambição de ser tão grande e imponente como a dos
Patiño, onde estiveram presentes 1200 pessoas num desfile de luxo,
celebridades e fama. Viviam entre Houston, no Texas, onde era a sede da
petrolífera Schlumberger, Paris e Colares.
Pierre
tinha uma vasta coleção de obras numa colecção que incluía muitos
Picasso, Braque, Monet, Degas, Bonnard ,Rothko, Rauschenberg e
Lichtenstein, e acabou por se tornar grande amiga de Andy Warhol. A
senhora Schlumberger foi a única portuguesa com um retrato seu pintado
por Warhol e por Salvador Dali, outro artista que ficou seu amigo. Em
1969, apenas um ano depois do grande baile em Portugal, Pierre teve um
AVC durante umas férias em Portugal. Em 1984 Pierre teve novo AVC, para
falecer 14 meses depois.
PAUL MORAND
Paul
Morand (Paris, 13 de março de 1888 – Paris, 24 de julho de 1976) foi um
diplomata, novelista, dramaturgo e poeta francês, considerado um
modernista. Foi membro da Academia Francesa. Apaixonado por Sintra.
Visitante de Sintra, escreveu em 1959 O Prisioneiro de Sintra, cinco
contos em torno de uma família aristocrática residente em Sintra.
Escreveu igualmente “Lorenzaccio”, onde o personagem,Tarquínio
Gonçalves, o proscrito de «Lorenzaccio», teria sido visto em Portugal
como um ofensivo retrato de Oliveira Salazar. Em 1956, numa entrevista a
Stéphane Sarkany, Paul Morand fez esta revelação surpreendente:
Construí a personagem de «Lorenzaccio» inspirando-me num amigo meu, um
jovem português que era o chefe dos pederastas de Lisboa. Divertiu-me
transformá-lo num ditador, isto dois anos antes de Salazar ter aparecido
e quando Portugal estava muito longe da ditadura! Mas os Portugueses
julgaram que eu tinha feito um retrato de Salazar, e andámos de candeias
às avessas durante vinte anos.
Este
escritor, este diplomata de carreira, esteve quinze anos sem voltar a
Portugal; teve vistos de entrada negados pela polícia política
portuguesa e o seu amigo José dos Santos, director da Casa de Portugal
em Paris, fez-lhe saber que era persona non grata no nosso país. Mas tão
forte azedume de fronteiras teria sido alimentado por uma associação
directa entre a personagem Tarquínio Gonçalves e Salazar.
Escritor,
diplomata e académico (no fim da vida), Paul Morand (1888-1976) é uma
figura desagradável da literatura francesa. Não tanto pela sua
colaboração com o regime de Vichy (a que aderiu voluntariamente,
abandonando as funções diplomáticas em Londres em 1940 e aderindo ao
governo de Pétain, que o nomearia ministro plenipotenciário em
Bucareste) mas pela sua personalidade intriguista e mesquinha. Tendo
convivido de perto com a maior parte dos escritores (e não-escritores)
homossexuais franceses, como Proust, Gide, Cocteau, aproveitou todas as
ocasiões para os criticar e para exaltar a sua pretensa virilidade e a
sua paixão pelas mulheres, o que, dada a insistência com que o faz, não
deixa de levantar suspeitas sobre o carácter das relações que manteve
com muitas das personalidades citadas nas suas memórias, o Journal
Inutile. Como escritor, foi brilhante mas superficial, e não tendo
conseguido fazer-se eleger para a Academia Francesa antes da Ocupação
alemã, só viria a sentar-se entre os “imortais” em 1968, já que De
Gaulle (por óbvias razões), como patrono da Academia, sempre se opusera a
essa eleição, que só se concretizaria no período final do mandato
presidencial do general.
JACQUES CHARDONNE
De
ascendência norte-americana pelo lado materno, Jacques Chardonne,
pseudónimo do escritor Jacques Boutelleau formado a partir do nome de
uma aldeia suíça (Chardonne-sur-Vevey), iniciou a sua atividade
literária com Catherine, um primeiro romance escrito em 1904 mas que o
autor só daria à estampa sessenta anos mais tarde, em 1964. Outras obras
se seguiram com particular destaque para L’Épithalame (1921), romance
com o qual o escritor quase obteve o prémio Goncourt, Claire (1931), uma
obra com grande tiragem aquando da sua publicação, a trilogia Les
Destinées Sentimentales, publicada entre 1934 e 1936, Romanesques
(1937), Chimériques (1948) e Vivre à Madère (1953).
Os
primeiros contactos diretos com Portugal tiveram lugar no início de
Março de 1951, período em que Jacques Chardonne chegou a Lisboa por
comboio. A sua estadia não se circunscreveu apenas à capital portuguesa
já que a prosseguiu em Sintra e na Madeira, ilha à qual se dirigiu por
hidroavião, vindo a instalar-se no hotel Savoy no Funchal.Uma segunda
visita a Portugal teve lugar entre 15 de Abril e 15 de Maio de 1955.
Privilegiando a localidade de Óbidos, escolhida por José dos Santos,
então diretor da Casa de Portugal em Paris, esta segunda estadia incluiu
ainda uma incursão ao Norte do País e ao Algarve. Reflexos dela podem
ser encontrados na obra Matinales, publicada em 1956, que se constitui
como um conjunto heterogéneo de reflexões e impressões escritas na sua
maioria ao longo de 1955 e sem relação entre si. Particularmente na
secção IV, o escritor aborda diversas localidades e regiões portuguesas
como Óbidos, Sintra, Lisboa, Nazaré, o Algarve e ainda a Madeira.
Em
1959, Jacques Chardonne efetua uma terceira e última deslocação a
Portugal, a convite do então ministério da Informação e do Turismo.
Anunciada a sua chegada para o dia 15 de Março a Sintra, em carta de 4
de Fevereiro de 1959 ao escritor Michel Déon o escritor visita e
revisita localidades com Queluz, a Ericeira, Cascais, Sintra e, a seu
pedido expresso, Óbidos. Várias destas visitas foram aliás feitas na
companhia de Michel Déon e do editor Jean-Paul Caracalla, e respetivas
esposas.
De
resto, os contactos com Portugal à distância não deixaram de ser
significativos. Recebido por José dos Santos e pela esposa Suzanne
Chantal na Casa de Portugal em Paris, foi nessa instituição que Jacques
Chardonne comemorou o seu septuagésimo quinto aniversário, em Janeiro de
1959, tendo sido nessa mesma ocasião que conheceu pessoalmente Amália
Rodrigues. Uma celebração semelhante e no mesmo local ocorreu ainda em
1964, aquando do octogésimo aniversário do escritor.
Finalmente, em 1963, Michel Déon publicou Le Portugal que j’aime…,
obra acompanhada de numerosas ilustrações, legendadas por Paul Morand,
na qual aquele autor aborda diversos aspetos relativos à História,
monumentos, costumes do povo português. A apresentação do livro ficou a
cargo de Jacques Chardonne sob a forma de um curto texto introdutório ao
longo do qual se encontram diversos excertos, com alterações, extraídos
dos textos relativos a localidades portuguesas contidos na obra Matinales.
WIM WENDERS
Sintra
e o seu litoral também no cinema marcaram a sua presença. Em 1982 aqui
esteve Wim Wenders para a realização, em grande parte na Praia Grande,
do filme que lhe rendeu o Leão de Ouro em Veneza, quase todo rodado em
Portugal, e onde num ambiente intimista vários personagens, a preto e
branco, dissertam sobre a sua existência, aqui e ali se reconhecendo
paisagens a todos familiares, de Almoçageme à Praia Grande.
Rodado
em Portugal há mais de 30 anos, «O Estado das Coisas», de Wim
Wenders, decorre durante as filmagens,( na Praia Grande), de uma fita de
ficção científica de série B intitulada «Os Sobreviventes», a qual é o
remake de um velho título de Roger Corman, «The Day the World Ended».
(Corman aparece brevemente no final, em Los Angeles, numa das muitas
piscadelas de olho cinematográficas que Wenders faz ao longo da
história).
Sendo
um filme que glosa um tema caro a Wenders, a passagem do tempo sobre
pessoas errantes ou, no caso, inactivas (o dinheiro e a película acabam e
a equipa de «Os Sobreviventes» fica sem fazer nada num hotel à
beira-mar), e que confronta, nas pessoas de um realizador europeu
(Patrick Bauchau) e do seu produtor americano (Allen Goorwitz), duas
formas opostas de fazer cinema, «O Estado das Coisas» transformou-se sem
querer, e pela acção inexorável do tempo num filme de fantasmas. Lá
estão, já desaparecidos Henri Alekan, Samuel Fuller e o seu charuto,
Robert Kramer silencioso, Artur Semedo e a sua luva preta.
Em
redor deles, surge um Portugal tristonho e apático, ainda com vestígios
do PREC visíveis nos muros e paredes, sem telemóveis nem computadores, e
com preços arqueológicos (bife grelhado, 125 escudos, lê-se num menu do
hotel da praia).
GLAUBER ROCHA
O
consagrado realizador brasileiro Glauber Rocha, um dos percursores do
Cinema Novo e premiado director de Deus e o Diabo Na Terra do Sol (1963)
e Terra em Transe (1967) viveu na casa abaixo, na Vila Velha.25 anos
depois da sua morte, a sua companheira, Paula Gaitan voltou a Portugal e
filmou Diário de Sintra, um filme sobre a sua vida e legado.
AYRTON SENNA
Sempre
que Arton Senna vinha a Lisboa, ficava na Quinta que Braguinha, dono do
Bradesto, comprara em Sintra. Foi ali que uma vez foi conduzido pelo
taxista João Justino a quem deu uma gorjeta fenomenal.
Braguinha
dava instruções aos empregados e cozinheira para alimentarem bem
Ayrton. Bife com Batatas fritas, passou a ser o prato favorito. Com o
tempo, aquela passou a ser a casa de Senna. Nos números 22 e 24 da
Calçada da Penalva, em São Pedro de Sintra. Um refúgio com 30
assoalhadas, entre quartos, salas, copas, cozinhas, adega, jardins,
piscinas. Protegido pelas colinas de Sintra.
Aquele
lugar transformou-se no refúgio, na conchinha de Senna na Europa. A sua
Angra dos Reis europeia. Por Sintra vivia. O Autódromo do Estoril ali
ao pé, a praia do Guincho, para correr e treinar. Ali amou e foi amado.
PAUL AUSTER
Paul
Auster , o escritor norte-americano autor de vários best-sellers como
Timbuktu O Livro das Ilusões A Noite do Oráculo e A Música do Acaso, é
também realizador de cinema, e o seu segundo filme A Vida Interior de
Martin Frost (o último que realizou até hoje, depois de Lulu on the
Bridge e da co-realização de Smoke e Blue in the Face, com Wayne Wang),
foi filmado nas Azenhas do Mar, numa casa térrea com um jardim imenso a
dar para o Atlântico, tendo vivido por cá durante as filmagens.
ROMAN POLANSKI E JOHNNY DEPP
A
Nona Porta, uma adaptação de Roman Polanski em 1999 da obra literária O
Clube Dumas, do espanhol Arturo Pérez-Reverte, com Johnny Depp como
actor principal, foi em parte filmada em Sintra, no Hotel Central e no
Chalet Biester.
RAUL RUIZ
Raul
Ruiz, cineasta chileno radicado em França, país no qual se exilou
aquando a ocorrência do golpe de Estado no Chile em 11 de Setembro de
1973, que depôs Salvador Allende.
Fez
parte de uma geração de cineastas chilenos politicamente comprometidos,
como Miguel Littín e Helvio Soto. Mas aos poucos foi sendo considerado
um autor distinto, que criava filmes cada vez mais criativos,
surrealistas, irónicos e experimentais. É, por muitos, considerado o
cineasta chileno mais importante da história. Em Sintra gravou em 1981
“O Território” e já perto da morte, em 2011, “Mistérios de Lisboa”, com
exteriores na Quinta da Ribafria.
VISITANTES FAMOSOS
Rei Eduardo VII de Inglaterra, 1903
A
visita de Eduardo VII a Portugal foi a primeira deslocação que o
monarca realizou ao estrangeiro após a sua coroação. A visita a Sintra
decorreu no dia 3 de Abril de 1903, tendo os reis D. Carlos e Eduardo
VII saído da estação do Rossio às 11h17 e chegado a Sintra 20 minutos
depois. Aí, visitaram a Pena, onde lhes foi servido um almoço,
percorrendo depois o parque. Eram cinco horas quando o comboio real
chegou à estação do Rossio, levando de volta os monarcas e a comitiva.
Eduardo VII, Rei da Grã-Bretanha e da Irlanda, tinha embarcado com
destino a Portugal no dia 31 de Março de 1903, em Portsmouth, a bordo do
iate Victoria and Albert. O iate cruzou a barra do Tejo às 14h30 de 2
de Abril, acompanhado dos couraçados ingleses Minerva e Vénus.
Na
sua recepção reuniram-se entre Algés e Belém os cruzadores D. Carlos,
D. Amélia e Adamastor e um conjunto de vapores. Cerca das 16 horas,
altura em que o iate ancorou, o rei D. Carlos dirigiu-se-lhe no
bergantim real, encaminhando-se depois para o Cais das Colunas. Após a
recepção oficial, organizou-se um cortejo de seis coches, cada qual
ladeado por criados da casa real e um vasto conjunto de forças
militares.
O
programa de viagem do sucessor da rainha Vitória contou com uma visita a
Sintra e Cascais, noite de fogo de artifício e iluminações no rio,
inauguração do clube inglês nas Janelas Verdes, sessão na Sociedade de
Geografia, tourada no Campo Pequeno e ainda uma récita de gala no Teatro
São Carlos, com a ópera O Barbeiro de Sevilha.
A
visita a Portugal, que teve como objectivo estreitar os laços entre as
duas nações, terminou a 7 de Abril, quando “às vergas dos navios subiram
os marinheiros a soltar os vivas da ordenança”.
Marconi, 1920
Inventor
do primeiro sistema prático de telegrafia sem fios, em 1896, Marconi
fez a sua primeira transmissão pelo Canal da Mancha. A teoria de que as
ondas electromagnéticas poderiam propagar-se no espaço, comprovada pelas
experiências de Heinrich Hertz, em 1888, foi utilizada por Marconi
entre 1894 e 1895. Tinha apenas vinte anos, em 1894, quando transformou o
celeiro da casa onde morava num laboratório e estudou os princípios
elementares de uma transmissão radiotelegráfica, uma bateria para
fornecer electricidade, uma bobina de indução para aumentar a força, uma
faísca eléctrica emitida entre duas bolas de metal gerando uma
oscilação semelhante às estudadas por Heinrich Hertz, um coesor, como o
inventado por Branly, situado a alguns metros de distância, ao ser
atingido pelas ondas, accionava uma bateria e fazia uma campainha tocar.
Marconi
esteve em Portugal duas vezes, em 1912, quando fez uma palestra na
Sociedade de Geografia, e em 1920, altura em que visitou Sintra, como se
pode ver na foto abaixo, nas escadarias do Paço.
Lloyd George, antigo primeiro ministro britânico, 1934
T.S.Elliott, escritor, 1938 (segundo da esquerda para a direita)
Josephine Baker, cantora americana, 1941
Princesa Margarida de Inglaterra, 1959
Richard Nixon, 19 de Junho de 1963
Rainier e Grace do Mónaco, 1964
A
12 de abril de 1964, visitavam Portugal os príncipes do Mónaco, Rainier
e Grace, e nesse dia, um domingo, faziam uma visita a Sintra. A chegada
faz-se por S.Pedro em direcção ao Palácio da Vila, tendo depois sido
servido um almoço na Quinta da Ribafria, precedido de missa celebrada
pelo reitor do Seminário Salesiano de Manique.
Após
o almoço, campinos do Ribatejo dançaram algumas danças tradicionais
enquanto estudantes de Coimbra, de capa e batina, davam vivas aos
príncipes. A princesa Grace, actriz norte-americana que atingiu o
estrelato em Hollywood, mostrou interesse nas filigranas portuguesas,
enquanto Jorge de Melo, proprietário da Quinta, acompanhado dos seus 8
filhos, acompanhou o príncipe Rainier numa visita pela quinta,
observando os cavalos e poldros nas cavalariças.
Dia
16, o casal monegasco voltou a Sintra, mas aí para uma recepção
oficial, oferecida pelo presidente Américo Tomás no Palácio de Queluz.
Peter Gabriel, 1975
Mikhail Gorbachev, 1995
U2, gravação da capa do LP na discoteca Concha, Praia das Maçãs, 2004