11 de Março de 1975. Aluno do 6º ano no Liceu
D. Pedro V, em Lisboa (correspondente ao hoje 10º) ao som da Marcha do MFA- marcha
militar americana da autoria do luso-descendente John Philipp De Souza- que
passava nas rádios e no único canal da RTP, era surpreendido a caminho de mais
um dia de aulas com o inopinado voo de uns paraquedistas de Tancos que supostamente
atacavam o quartel do RAL 1, em Sacavém. As notícias eram desencontradas, e por
segurança, fui buscar a minha irmã, então aluna na Marquesa de Alorna, sob a
visão de aviões nos céus da Praça de Espanha, com aquela emoção de quem fugia a um
bombardeamento de napalm sobre Saigão. Eram dias em que tudo estava em
frequente mudança, e spinolistas ressabiados tentavam mudar o rumo da política
esquerdizante do governo de Vasco Gonçalves, pró-descolonização e colectivização
da economia, no que aliás, a nós, geração de Abril, nos parecia o caminho, filhos
do Maio de 68 e a quem a Internacional causava frémitos na espinha em busca das
madrugadas redentoras. Em consequência, falhando a intentona, Spínola fugiu
para Espanha, o governo radicalizou as políticas económicas, e vieram as nacionalizações
e a reforma agrária no Alentejo, dando inicio àquilo que se convencionou chamar
o PREC. Kissinger dava Portugal como perdido para os bolchevistas, e o caso República,
mais tarde, já depois de eleições para a Constituinte terem apontado um rumo
moderado para o país, afastava de vez a esquerda portuguesa, ainda hoje sobre o síndroma do famoso “olhe que não” de Cunhal.
Depois daquela quinta-feira em 1974 em que não
houve aulas e o ponto de Física ficou adiado por causa duns militares que
ocuparam o Terreiro do Paço, a vida corria vertiginosa, sempre agarrados à rádio
ou televisão, com os chaimites do COPCON no lugar hoje ocupado pelos tuk tuk. Embriagados
pelas notícias da liberdade que de todo o lado choviam, animados por canções de
protesto nunca antes escutadas, haviam-se descoberto os sons de Zeca Afonso,
Francisco Fanhais, Luís Cília e Adriano, manifestos policopiados e jornais de
parede apelavam a RGA’s para discutir problemas da escola, e o país agigantava-se
fazendo a última revolução utópica dos tempos modernos. O período que mediou
entre 11 de Março e 25 de Novembro desse ano foi o mais agitado da nossa História
contemporânea, durante o qual a maior parte das colónias se tornou independente
e se tentaram experiências oscilantes entre a social-democracia nórdica e o maoísmo
panfletário.
Passam hoje 40 anos dessa tarde em que os aviões rasantes
sobrevoaram a Praça de Espanha. Hoje, sem derramamento de sangue, embora, outro
napalm caiu sobre as cidades e campos deste país, estilhaçado,
vivendo na twilight zone da esperança e sem Marcha do MFA a empolgar os amanhãs
ululantes. Definitivamente, o futuro já não é como era.
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