Uma das virtudes da democratização dos meios de comunicação possibilitada pela blogosfera e pelas redes sociais é a de que a todos se tornou possível opinar sobre tudo o que ocorre no espaço público, o que, sendo uma conquista da Sociedade Aberta e uma virtude, traz consigo também a possibilidade diletante de tudo com a maior displicência criticar e atacar, sem que nenhum contributo positivo daí resulte (já sem falar da inércia em se envolver na elaboração de projectos e sua consecução, a tudo preferindo a frisa cáustica e a certeza de, ao não se envolver, fugir ao escrutínio dos outros).
Ser um operário da Cultura (em todas as suas vertentes, e não só as ditas eruditas) implica estar não só na concepção e no nascer das ideias, mas também na captação da comunidade para causas colectivas, no trabalho associativo que tanto pode passar por conceber um projecto ou uma iniciativa mas também contribuir para a mobilização dos demais, colar o cartaz, mandar o mail, arrumar as cadeiras ou vender a bifana. E essa é uma tarefa que muitos gurus da nossa praça escamoteiam, pensando que dar ideias para iniciativas é suficiente e que alguma empresa de catering ou batalhão de funcionários fará o trabalho de sapa. E depois, quando as coisas pela sua natureza tiverem dificuldade em alcançar um certo patamar ou revelem as lacunas próprias de quem muitas vezes tem de agir sem verba ou voluntários, lá vêm as vozes ululantes dos velhos (e novos) do Restelo, questionando as faltas mas nunca elogiando o que apesar de tudo se conseguiu, ou oferecendo contributo, não poucas vezes invocando a "indisponibilidade" naquele dia, um parente distante doente ou um inesperado compromisso noutro sítio.Mas sempre prontos a receber os "louros" e a ficar na foto quando o mérito é reconhecido ou a associação a certas imagens se mostrar oportuna.
Longe vão os tempos dos carolas das associações, do teatro amador ou dos saraus de poesia, e razão tem José Gil: tornámo-nos meros consumidores de produtos ditos culturais, muitas vezes não inscrevemos opinião que não seja mimetizando a opinião publicada vendida como própria, ao palco onde se pode ser artista mas também electricista preferindo o confortável camarote das vaidades, em busca do aplauso fácil, mas raramente dando a cara pelo insucesso ou na hora das dificuldades.
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