Donat-Alfred Agache, Etienne de Gröer e Luigi Dodi
foram alguns dos arquitectos que a convite de Duarte Pacheco trouxeram a
Portugal nos anos 30 e 40 novos ideais urbanísticos, entre os quais se destaca
o conceito da cidade-jardim, de Ebenezer Howard, em voga por toda a Europa de
então.A aplicação prática desses conceitos e a sua adaptação a um contexto
territorial especificamente português, constituiu um legado para gerações de
urbanistas e arquitectos nacionais. Em 1938 a Câmara de Lisboa, com Duarte Pacheco,
contratou o arquitecto–urbanista Étienne de Gröer a definir as grandes linhas
de desenvolvimento da cidade.nEm finais dos anos 40, o mesmo arquitecto, de
ascendência russa, elaborou o Plano de Urbanização de Sintra, aprovado em 11 de
Novembro de 1949 e ainda hoje em vigor.
Gröer
percebeu o que tinha em mãos: preservar o casco histórico e acautelar a
expansão, mas, ao mesmo tempo reservar zonas para as necessárias actividades
económicas, sem as quais se matam as cidades tornando-as obsoletas e amorfas.
Foi sobre esse fio de navalha que Sintra viveu desde então, até aos anos 60
pelo menos, respeitando o legado de Gröer. A partir dessa altura, depressa os
ventos do crescimento desordenado chegaram a Sintra, como o caos da Portela ou
a cacofonia da Estefânea o atestam, e o que era um plano prospectivo, um manual
de procedimentos e bíblia de consistência passou a ser usado de forma
casuística, usado para indeferir quando as propostas não interessavam ou
capciosamente esquecido quando algum mamarracho precisava de avançar. Onde
esteve o Plano de Groer quando se construiu o Hotel Tivoli, ou o Departamento
de Urbanismo na Portela (era para zona verde…) os caixotes dissonantes da
Portela ou o “comboio” de armazéns em Ouressa?. Paradoxalmente, ao não se ter
retocado o plano, sob a falácia de que isso subverteria o ordenamento do centro
histórico, mais argumentos se foram dando a quem o considerava ultrapassado,
panaceia de arquitectos antiquados ou esclerosados defensores do património.
Vem aí um novo plano, há dois anos em estudo, o qual corre grandes riscos: ou
nada mexer e assim assobiar para o lado num sector que deve ser particularmente
acarinhado mas de forma positiva e pró-activa, ou alterar demais abrindo a
brecha para o cavalo de Tróia do betão (do mau betão, sobretudo) sob a forma
rebuscada e politicamente correcta de “mais valia para o turismo” ou da
“modernização”. Etienne de Gröer, o franco-russo que um dia veio ordenar
Lisboa, Cascais e Sintra, entre outras, viu mais além, passados sessenta anos
merece um sucessor à altura. Tê-lo-á?
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