E eis que o fogo chegou à
Acrópole sob a forma de tragédia, com traição, suspense e fraqueza humana que
baste para garantir um final infeliz, como convém a qualquer tragédia.
Pior é que no corifeu estão dez
milhões de figurantes, ululando ante os punhais ameaçadores, o incesto edipiano
e a cicuta que nos querem dar a beber, agora que se sabe que a maratona não vai
chegar ao fim.
Vencidos os convencidos, a outros
convém encontrar que sejam convincentes, reorganizando os exércitos e marchando
sobre Esparta. Mas aos reis gregos se impõe que busquem alianças antes de nova
batalha, para que falada a democracia se possa em paz e sem desafio a Zeus
seguir no governo da polis. Sem isso, os ventos éolos soprarão inclementes
sobre as tágides, sob o olhar inclemente dos sátiros, E se catarse pode haver,
será a dos indignados no Olimpo das redes sociais ou fartos das sopas dos
pobres em qualquer banco alimentar.
Na tragédia lusa há em arena
deuses, reis e heróis, como em qualquer tragédia. Os deuses da usura e da
trilogia financeira, holográfica presença do Olimpo, no seu vulcão enfurecido;
os reis desavindos, capturados pela soberba e narcisismo; e os heróis, os
sacrificados da ágora, escravos e metecos duma pólis madrasta, invadindo as
ruas e os templos da suposta democracia.
Prólogo houve ante um outro
Sócrates, peripatético arauto de grandes obras e émulo de Roma e Atenas, caído
às mãos dum arconte após beber da cicuta usurária, a que se seguiram dois anos
de um doloroso episódio, para agora se chegar ao êxodo: dos personagens, em
covarde debandada, e do coro ululante, com seus pároclos e estásimos. Cabe
agora encenar nova peça, sem édipos ou bacantes, e onde o coro assuma lugar
central e o final seja de esperança, com um regresso a Ítaca pondo fim à dor
das penélopes e telémacos da tágide tragédia.
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