sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O Associativismo, hoje


Pergunta-se se o modelo associativo como o conhecemos tem futuro. Terá se certos atavios forem debelados de forma enérgica.
Baluartes de resistência e cidadania durante o período do Estado Novo, as associações irromperam no pós Abril como cogumelos, sendo numericamente hoje mais de 40.000, distribuídas nas vertentes cultural, desportiva, sócio-profissional ou de solidariedade. Mas se ser associativista é uma forma de dizer que se quer estar activo como cidadão-actor em prol duma participação efectiva e do legítimo exercício da democracia cultural -na vertente de cultura para todos, e com todos -tal não impede que a mudança de paradigma que as novas solicitações da sociedade global e da informação impõe permitam e exijam que se ultrapassem algumas patologias.
A falta de formação de novos dirigentes, articulados com as realidades do tempo que passa e sem espírito corporativo, de imobilismo na preservação de lugares ou incapazes de congregar novas sinergias.
A eterna falta de verbas e da perspectiva de olhar para as associações sobretudo para a preservação da vertente patrimonial, das sedes e equipamentos, desenquadrada do fim último de congregar vontades, mobilizar opiniões, e gerar actos de cultura, desporto, etc
A prevalência do individualismo hedonístico, que desvaloriza o trabalho de equipa ou colectivo, em benefício das figuras, num estereótipo transmitido por um modelo de sociedade onde o Eu vence o Nós, mas de forma volátil, efémera e perversa.
A falta de investimento na inovação, e na ruptura com certas práticas, reproduzindo uma "cultura de corpo" estática, distanciada das necessidades para que muitas vezes essas associações foram criadas, facto espelhado nas múltiplas associações que apenas mobilizam para jogar o dominó ou assar o courato, mas deixaram de ter desporto activo, de produzir cultura da terra para importar cantores de moda efémeros e dissonantes, ou de se rever com o conjunto da população, num multiplicar por esse país fora de inúmeros Cinema Paraíso decadentes e ansiosos por revitalização.
A subsidiodependência, a suburbanidade de escolhas culturais, o divórcio com as forças mais dinâmicas das comunidades, e o espírito -há que dizê-lo- reaccionário e imobilista de certos dirigentes- fazem os pavilhões ás moscas, os teatros a cair de podres, os balneários sem água quente, tudo símbolos que ninguém quer herdar ou assumir, e logo de pouca atractividade.
É na subversão deste estado de coisas que o associativismo, com novos modelos de financiamento, com novos e empenhados dirigentes, de braço dado com as novas tecnologias e sob o desígnio de parcerias profícuas poderá singrar. Daí a necessidade de conjugar esforços com outras associações no sentido de criar elos de fortalecimento do movimento associativo cultural, em prol de mais Cultura com mais Organização e mais Capacidade e Alcance.
A experiência de 8 anos com a Alagamares, e as dificuldades na implantação da PAACS- Plataforma das Associações e Agentes Culturais de Sintra, mostram que a par de força e energia, há também muitas inércias que por vezes se anulam, fazendo deste um processo de paciência subsistindo apenas quando for firme a convicção nos resultados e activa a mobilização das vontades.

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