Parece que um grupo de técnicos do FMI, a pedido do governo português (há um governo?) elaborou um relatório de 77 páginas onde se dedica a produzir palpites sobre a melhor forma de reformar o Estado Social e ir buscar o dinheirinho com que os seus ordenados e o dos seus patrões há de ser pago. Dada uma espreitadela ao mesmo, avilta a facilidade com que se manipulam números que têm pessoas por trás como se fosse um jogo do monopólio e acabasse de sair a carta “Vá para a prisão, sem passar na casa partida nem receber 100 euros”. Ignoram-se os dados estatísticos que foram fornecidos para tão demolidores resultados, e isso é o que mais estranha no dito relatório-sentença: que números, e qual a fiabilidade dos mesmos, conduziram a tão brilhantes conclusões? Dias depois de o economista chefe do FMI, Olivier Blanchard, ter admitido ter a sua organização falhado nas previsões para os países intervencionados quanto ao papel dos estabilizadores automáticos, atenta a dose de austeridade administrada, que crédito pode ter mais um relatório, para mais com a fama que precede o FMI onde chega, de nunca ter resolvido problema algum nos países onde interveio?
Estamos perante um relatório que só tem conclusões e nenhuma pista, como se só esta fosse a única possível, quentinha e saída da fornada para o Inferno em que querem transformar este país. Salivante, o secretário Moedas já veio elogiar a forma seca e sem misericórdia como os rapazes querem liquidar o país dele. Que tristeza, a de em vez de um governo termos uns eunucos a soldo de organizações internacionais, onde pagamos para estar, e, pasme-se, até temos portugueses em lugares de topo, de quem nos foi dito ser isso bom, para na altura necessária virem ajudar o nosso país. Viu-se, não foi, senhores Barroso, Constâncio e Borges!!
Insólito, mas não novo, é o facto de se continuarem a produzir documentos como se fossem bíblias sagradas, que marcam e afectam o futuro de milhões de portugueses, e tudo não passar dum mero draft assinado e imposto por técnicos de segunda, tal como o memorando de “entendimento”, por exemplo. Avassalador documento, não passou dum punhado de parágrafos em inglês, sem direito a tradução, fiscalização parlamentar ou presidencial, ou verificação da constitucionalidade sequer, quando qualquer tratado secundário obedece a todos os formalismos e mais alguns. E ninguém pareceu preocupado com isso, na altura ou subsequentemente.
Será que a emergência financeira fez ruir o Estado de Direito? Assim parece. Memorandos que mais parecem rascunhos, não traduzidos, sem assinaturas legíveis e alterados a cada visita de avaliação, é isso que governa Portugal efectivamente. E outro está já no horizonte. Tribunal Constitucional para quê? Meus senhores, operetas são no Teatro de S.Carlos.
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