Paulatinamente, a austeridade e uma Europa
exclusiva e excluídora, trazem de volta os nacionalismos e o homo lupus que Hobbes tão certeiramente descreveu, e que
pavlovnianamente põe o Eu nacional a salivar à vista do Outro, esse osso
estranho que se pode chamar imigrante, muçulmano, latino, negro ou cigano.
A Europa das Pátrias, do Atlântico aos Urais
está de volta, mas na sua pior versão, a do ressentimento, do Norte contra o
Sul, de contribuintes contra pedintes, de calvinistas contra despesistas, atrás
do que se escondem as nunca disfarçadas rivalidades históricas entre povos e
nações que nunca verdadeiramente cessaram hostilidades, fazendo das diferenças
o mosaico cultural que a Europa é e na prática sempre foi, intervalado pela
utópica ideia de uma União Europeia que deu o passo maior que a perna.
De Marine Le Pen á Aurora Dourada grega, dos
eurocépticos ingleses à extrema direita holandesa, da Liga Norte ao Partido
Pirata alemão, são os votos contra o stablishment
político-partidário de décadas, movido pela crise e pelo multiculturalismo
que vão enchendo os parlamentos europeus de raposas disfarçadas de cordeiros,
deixando escapar o mal estar que vai nas ruas da Europa e que de quando em
quando revela um Breivik solitário ou a xenofobia há muito latente.
A crise sublima as frustrações e a
dificuldade de conviver com o Outro, olhado por cima do ombro a ver quando vai
roubar o emprego, as tradições ou até o governo. São negras as nuvens que
pairam sobre esta Europa que os baby
boomers quiseram de progresso, abundância e direitos, tudo emoldurado por
um Estado social aglutinador e ideais de progresso para os quais o Espaço era o
limite.
Mais que tratar da árvore do défice, e das
podas de austeridade com que se tem tentado erradicar as moléstias, há que
olhar a floresta e todas as espécies arbóreas que a povoam, endémicas e
exóticas, e com muitas infestantes também.
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