quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ser português é chegar sempre atrasado


Em Portugal chegar atrasado a compromissos é uma característica nacional e para muitos até uma forma de afirmar a posição social. Vem isto a propósito de algumas idiossincrasias muito lusitanas que mostram como até nos pequenos detalhes chegámos ao estado em que nos encontramos hoje.
A concretização de objectivos em qualquer sector de actividade passa por uma organização pensada e estruturada que desemboque em tarefas calendarizadas e a partir das quais se vá aferindo a concretização e superação desses mesmos objectivos. Nas empresas, na vida pessoal ou em qualquer acto organizado. Sucede hoje, porém, com cada vez mais frequência, o desleixo e a desorganização dominarem mesmo no funcionamento de pequenas organizações ou na vida associativa, que por tradição é voluntária, e logo decorrente de uma predisposição pessoal.
São os atrasos a reuniões, os quais não há preocupação em evitar ou justificar, a facilidade diletante com que se falham ou adiam compromissos pelos motivos mais fúteis, a falta de empenho nos objectivos que se assumiram com terceiros, tornando quase hercúleo o esforço que alguns fazem na prossecução de certos fins, onde além das dificuldades materiais e más vontades que sempre ocorrem muitas vezes se tem também de contar com o “inimigo interno” que são os que não fazem nem deixam fazer.
Quando alguém assume responsabilidades perante terceiros tem o dever de ser pró-activo e diligente, eficaz e operante, e não desleixado, desorganizado e força de bloqueio. É esse estado de coisas, resultado de um clima laxista muito comum entre nós e já anterior à crise (e se calhar também por isso chegou a “crise”) que nos traz em pouca consideração perante outros povos para quem chegar atrasado a uma reunião é indesculpável ou ter o comportamento no trabalho que entre nós tem vingado algo de inacreditável.
Outra postura é necessária, ou por culpa própria iremos sendo cada vez mais um país que merece a troika que tem e o estigma de protectorado que hoje exibe perante o estrangeiro. É assim o português. Sonhador, navegou novos mundos e sulcou mares desconhecidos, mas foram flamengos e genoveses quem fez os negócios da Índia e da China enquanto sonhávamos impérios que afinal tinham pés de barro. A começar nesta maneira de ser, meridional e doce, por um lado, mas com os seus anti-corpos também.

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